Ana Beatriz Abreu cultiva seu 'jardim de plantas inventadas’ no Centro Cultural
Seja no jardim das hespérides, onde deusas primaveris e ninfas do entardecer personificam o espírito fertilizador e cíclico da natureza, ou no karesansui, espaço em que monges budistas elaboram suas meditações em busca de harmonia com o ambiente, o ser humano tem representado, repetidas vezes ao longo da história, esse lugar idealizado e paradisíaco na forma de um jardim.
Essa força representativa permeia a exposição Viridário – Jardim da fragilidade, da artista plástica Ana Beatriz Abreu, que pode ser visitada até 30 de outubro no Centro Cultural UFMG. Com curadoria do professor Fabrício Fernandino, a mostra integra o projeto Escultura no Centro, que evidencia os trabalhos tridimensionais desenvolvidos por alunos do curso de Artes Visuais, com habilitação em Escultura, da Escola de Belas Artes da UFMG. A entrada é franca, e a classificação etária, livre.
Natureza virtualizada
Os jardins são criações humanas, espaços artificiais e simbólicos que deslocam e reduzem o ambiente natural, a fim de figurar essa relação dúbia que se estabelece com o reino vegetal. A partir dessa perspectiva, Ana Beatriz desenvolveu um jardim de plantas inventadas que, por meio da distorção de formas orgânicas, virtualiza a natureza, não em um movimento de oposição, mas de continuidade.
"Viridário – Jardim da fragilidade tem o objetivo de aprofundar as discussões em torno desses espaços concebidos como refúgios, oásis cultivados de forma artificial”, afirma-se no material de divulgação distribuído pelo Centro Cultural. A escultura, segundo o texto, foi concebida, inicialmente, para dialogar diretamente com a paisagem em que está inserida, sem uma sustentação para se manter de pé, a menos que esteja aterrada a um substrato. Ao transferi-la para um ambiente expositivo interno, revelam-se as tensões que atravessam a própria ideia de jardim: uma natureza deslocada, artificialmente construída para nosso deleite estético.
A artista
Natural de Belo Horizonte, Ana Beatriz Abreu é graduanda em Artes Visuais, com habilitação em Escultura, pela UFMG. Sua pesquisa é dedicada à investigação de técnicas de impressão e seus desdobramentos no campo ampliado, explorando impressões em tecidos, gravuras-objetos e práticas de modelagem em argila e porcelana, com ênfase nos processos de esmaltação em cerâmica e na queima em forno a lenha Noborigama. Atualmente, sua produção concentra-se no diálogo entre natureza e cultura, explorando as micro e macrorrelações biológicas e cósmicas, bem como as comunicações simbólicas que envolvem o fazer humano. Suas abordagens perpassam temas como fertilidade, gênese, crescimento, evolução e morte.
